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Neuroses



As neuroses são especificidades de atuação na clínica psicanalítica, são consideradas doenças do sistema nervoso. Esse termo foi criado por Willian Cullen (1710 – 1790) bem antes de Freud para designar diversas classes de doenças cuja gênese não é encontrada nenhuma lesão que a explique. Foi com o estudo da histeria “a grande neurose” que a psicanálise se desenvolveu.

A histeria no sentido freudiano tornou-se o protótipo, para o discurso psicanalítico da neurose como tal”.

A psicanálise acredita e difunde que o desencadeamento neurótico está intimamente relacionado às experiências sexuais da primeira infância, ou seja, os caminhos que a libido encontra em seu desenvolvimento, seus pontos de fixação e regressão. Nisso a instauração, permanência e dissolução do complexo de Édipo tem um papel fundamental.

[…] a base de uma neurose é o chamado complexo de Édipo.”

Nos três ensaios da Teoria da Sexualidade, Freud (1901 – 1905) descreve de forma concisa e esclarecedora as fases de desenvolvimento libidinal que atinge o seu ponto alto na vida sexual adulta. Para cada fase há uma zona erógena correspondente. Na primeira fase, oral, a boca é zona erógena privilegiada, na fase seguinte, anal, a sensibilidade se encontra mais aguçada na região anal, e na terceira fase, fálica ou genital, os genitais são zonas privilegiadas, mesmo que as outras partes do corpo conservem resquícios de excitação. Nesse período a criança também vivencia todos os sentimentos decorrentes do complexo de Édipo e a segunda fase da masturbação infantil.

A sexualidade da criança é vivida de forma autoerótica, sem medo e sem culpa. Mas depois de repetidas repreensões e ameaças, por parte dos adultos, ela reprime seus desejos incestuosos, e também os perversos decorrentes das fases oral e anal, ela os empurra para o inconsciente, pois seu ego ainda é fraco e necessita da proteção dos pais. Prefere renunciar aos seus desejos a renunciar ao amor que pode perder caso prossiga com seus desejos e atos no que tange a sua sexualidade. Inaugura a lei dentro de si e passa a obedecer ao superego (representante dos pais). Dessa forma a criança entra na fase de latência, o que possibilita que sua atenção de volte para atividades intelectuais.

_________________________________ Roudinesco (1998, p. 535). Fenichel (1997, p. 21)

Isso acontece também por ver seus desejos edipianos frustrados pelos genitores. Há um genitor que lhe nega e outro que lhe impede. Esse recalcamento dos desejos incestuosos explica o fato dos primeiros anos da infância permanecerem tão obscurecidos.

Além disso, Fenichel (1997, p.82. 98) coloca que

A superação destes desejos, a de substituir-se pela sexualidade adulta, representa o pré-requisito da normalidade, ao passo que a adesão inconsciente às tendências edipianas caracteriza a mente neurótica.”

A criança edipiana necessita dessa frustração para o surgimento de seu superego, mas de forma adequada, com compreensão, diálogo, para que o superego não seja muito rígido. Se a fase edipiana for entendida e vivida de forma adequada o Édipo se resolve. Pois ele “é normal até certa idade, mas patológico em qualquer outra”. Do complexo de Édipo depende as relações e escolha que o sujeito estabelece com os objetos.

A respeito da frustração, em 1908, Freud escreveu que ela é o fator mais óbvio no desencadeamento da neurose, o indivíduo é sadio à medida que suas necessidades de amor estão satisfeitas e adoece quando não. A frustração tem efeitos patogênicos justamente por represar a libido, e isso só não exerce efeito patogênico se essa energia libidinal frustrada for utilizada pela sublimação de forma prazerosa em outras atividades socialmente aceitas.

É justamente na frustração que o indivíduo pode fazer uma regressão a fases anteriores do desenvolvimento libidinal e é ai que ele pode se fixar de maneira patogênica. Mas para tanto é necessário levar em consideração a quantidade de libido investida nessas fases e nos processos de frustração, fixações, inibição de desenvolvimento psicossexual. Apesar da sublimação aliviar a frustração, nem toda energia libidinal é sublimável em sua totalidade.

Mesmo que seja impossível medir a quantidade de libido plausível de ser patogênica em tais investimentos libidinais, deve-se levar em consideração a quantidade de libido que o ego é capaz de suportar e sublimar sem adoecer. E isso varia de pessoa a pessoa.

Embora a quantidade de libido não deva ser desprezada, também o fator de suporte dessa quantidade tem uma grande influência. Há fatores que operam lado a lado na causação das neuroses. Entre esses fatores está a cooperação na construção da sociedade.

O sujeito adulto se ver impelido a cooperar na construção da sociedade que exige dele um grande dispêndio de energia pulsional que por vezes ele não estar disposto, ou não tem estrutura para suportar e empregar. A doença neurótica é também um incremento da moral sexual civilizada.

A experiência nos ensina que existe para a imensa maioria das pessoas um limite além do qual suas constituições não podem atender às exigências da civilização. Aqueles que desejam ser mais nobres do que suas constituições lhes permitem, são vitimados pela neurose. Esses indivíduos teriam sido mais saudáveis se lhes fosse possível ser menos bons. (FREUD, 1908, p. 177).

Os mecanismos de defesa são utilizados a fim de aliviar as angústias. Quanto mais mecanismos de defesa uma pessoa utiliza, mais neurótica ela pode se tornar. As defesas servem ao enfraquecimento do ego, e a neurose é a resposta para tal enfraquecimento.

O ego luta contra os desejos sexuais recalcados e com as experiências dolorosas do passado e, portanto as defesas são formas de resistências a fim de manter no inconsciente tais experiências insuportáveis ao ego. Essas defesas exigem do ego grande dispêndio de energia que vai de um mecanismo a outro na formação de sintomas neuróticos.

Em (1910) Freud, coloca que o ego sente-se ameaçado pelas exigências dos instintos sexuais e, portanto reprime tais exigências; no entanto, o resultado que se espera de tal repressão não se produz, pois leva à formação de substitutos perigosos para o reprimido e traz reações incômodas para o ego. Dessas duas classes de fenômenos, tomadas como um todo emerge os sintomas da neurose.

[…] Toda neurose tem como resultado e, portanto, provavelmente, como propósito arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade. […] Os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável – seja no todo ou em parte. O tipo mais extremo deste afastamento da realidade é apresentado por certos casos de psicose alucinatória que procuram negar o evento específico que ocasionou o desencadeamento de sua insanidade. Mas, na verdade, todo neurótico faz o mesmo com algum fragmento da realidade. (FREUD, 1911, p. 232)

Freud (1913) em seu trabalho sobre a escolha da neurose coloca que há no inconsciente das pessoas a escolha da neurose, mas para que isso aconteça deve haver uma predisposição e causas concorrentes. Há pessoas que passam pelas mesmas situações, mas não adoecem, enquanto outras adoecem, a resposta está nas suas disposições e na forma como encara as situações.

Há aqueles que não têm em sua constituição a tendência a adoecer, mas pelas inúmeras circunstâncias dolorosas caem doentes de uma neurose da mesma forma em que há quem tenha tendência ao adoecimento, no entanto não adoecem por encontrarem-se em situações externas favoráveis. O constitucional e o acidental se unem na formação das neuroses. O fato de uma pessoa adoecer de uma neurose e não de outra é uma questão de escolha da neurose.


REFERÊNCIAS

FENICHEL, O. Teoria Psicanalítica das Neuroses. 1ª. ed. São Paulo; Rio de Janeiro; Belo Horizonte: Atheneu, v. Único, 1997.

FREUD, S. Três Ensaios da Teoria da Sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, v. VII, 1901 – 1905.

FREUD, S. Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna. Rio de Janeiro: Imago, v. IX, 1908.

FREUD, S. Concepção psicanalítica da pertubação da visão. Rio de Janeiro: Imago , v. XI, 1910.

FREUD, S. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. Rio de Janeiro: Imago, v. XII, 1911.

FREUD, S. A disposição á neurose obsessiva: uma contribuição ao problema da escolha da neurose. Rio de Janeiro: Imago, v. XII, 1913.

ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, v. único, 1998.


Texto produzido por: Auricleide Maria de Moura. 34 anos, Religiosa – Filha da Caridade de São Vicente de Paulo. Psicanalista pela ABEPE – Associação Brasileira de Estudos Psicanalíticos do Estado de Pernambuco, Pedagoga e Psicopedagoga pela AESA – Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde. E-mail: auricleide13@gmail.com

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